terça-feira, 28 de novembro de 2017

Sobre as emoções



Quando eu era mais nova, morria de vergonha quando minha mãe decidia contar coisas da minha infância para as amigas, vizinhas e parentes... Com o tempo, a nostalgia ganhou minha personalidade de tal forma que eu mesma pedia para ela repetir mil vezes essas histórias de infância.
Em uma dessas ocasiões, ela me contou que quando nasci quase não chorava, e depois de alguns dias, ainda recém-nascida, ela percebeu que quando eu chorava não saiam lagrimas dos meus olhos. Descobriram que não era frescura, mas uma peculiaridade relacionada à uma obstrução do canal lacrimal. Coisa simples, nada que uma ida ao pediatra e uma furadinha no orifício lacrimal não resolvesse.
Mas o caso vai muito além de lágrimas e histórias de infância, tempo depois fiquei pensando sobre isso e percebi que durante a vida toda, eu e quase todas as pessoas ao meu redor, viviam em um dilema em que consiste em suprimir seus sentimentos e emoções, em um dilema em que chorar é considerado uma fraqueza. 
Dogmas sociais que nos escravizam e nos encurralam. Eu mesma já me vi dezenas de vezes chorando escondida ou sabotando as lágrimas, teimosas companhias que insistiam em cair. Chorar na frente dos outros? NUNCA! Aprenda a chorar no banheiro ou no travesseiro e lhe dirão quão forte é sua personalidade.
Você certamente já ouviu:
_ Homem não chora.
_ Não liga não, são lágrimas de crocodilo...
_ Engole esse choro!
_ Aquela ali chora por qualquer coisa, é uma manteiga derretida.
E no final das contas, como disse, não se trata de lágrimas e histórias de infância, se trata das emoções: sentimentos automáticos e instintivos, que normalmente não sentimos plenamente, por medo, pudor ou vergonha. Estamos preocupados demais em guardá-los e escondê-los e para minimizar nossa culpa, dobramos ao meio, cada porção de emoção e colocamos no fundo de nossa caixa de Pandora. O que não percebemos é que ao guardar lá dentro não é a mesma coisa que jogar fora. E a pior maneira de neutralizar uma emoção é conter sob pressão, pois um dia ela estoura.
Já vi pessoas pacíficas, mas que no passado humilhadas, chateadas e oprimidas, num momento de raiva agrediram inocentes e mataram por nada. Homens descentes que cresceram sem mãe ou sem a figura paterna, e que e em um momento de revolta passaram a espancar os filhos e a esposa. Tantas mulheres solitárias com baixa autoestima, em um dia desejaram a morte, no outro dia, suicídio.  
Emoções contidas explodem! Mas elas em si não são inimigas, estão intrínsecas à condição humana ignorá-las é negar a si mesmo, aprisiona-las é fazer-se de detento.

Sinta cada emoção, mesmo as mais dolorosas com a intensidade que lhes são pertinentes. Tristeza, mágoa, luto, frustação... Cada condição tem seu próprio consolo.
E quando vier àquela vontade de chorar, ignore a inútil vontade de secar cada gota antes de chegar à boca, aceite e prove o sabor amargo, mas de fato salgado de cada derrota. Não aborte o próprio choro. Entenda que dos infinitos motivos que nos faz sorrir, a felicidade é um deles e até mesmo ela pode nos fazer chorar.



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